sábado, 5 de outubro de 2013

Poesia - A reeditar o tropeirísmo

No bimbalhar dos cincerros
Como um clarim ao relento
Deu ênfase e deu andamento
A sobejidão das tropeadas.
Nas rondas, nas arribadas
qual um rondante aflito
A emitir estridentes gritos
Em esplêndidas madrugadas.

Hoje em tropeadas de sonhos
Onde a forja do tempo tempera
Em homenagens sinceras
Por façanhas imortais
A retornar-se jamais
Ao longo de algumas trilhas
Sobre o dorso das coxilhas
Por serras e por matagais.

Quem diria que o tropeiro
De maneira tão crucial
Dormiu até em lamaçal
Ao longo dos descampados
Sem ter seu nome lembrado
Mesmo em súbitos momentos
A morrer no esquecimento
E não ser condecorado.

Das manhãs primaveris
Às tépidas tardes setembrinas
Emoldurou-se as campinas
Até as caravanas de abril.
Fez bem mais forte o Brasil
Sem empecilho ou cancela
Deu-nos alicerce e rumo
Serviu de base e aprumo
À pátria verde e amarela.

Cristóvão Pereira Abreu
Foi um tropeiro completo
Usando o mesmo dialeto
Com inteligência e brilhantismo
Foi o precursor do tropeirismo
Sem precisar de balizas
Pra desbravar o sertão
Quando a partir de então
A marcha se concretiza.

As antigas taipas de pedras
Erguidas entre o rochedo
Pra história não há segredo
Serve de pompa ou ostentação
Dando-nos nítida impressão
Que Deus as criou soberanas
Entre o deserto e choupanas
Neste aparato de emoções
Sem geometria ou divisórias
Delineando nossa trajetória
Pra futuras gerações.

Sob o esplendor das colinas
Surgem paisagens tão belas
Por entre sonhos e aquarelas
A própria emoção nos conduz
Como um candeeiro de luz
No colorir de arrebol
Na configuração, âncora e farol
Em um elo de amor e carinho
Nos faz traçar um só caminho
A iluminar nossos destinos
Sendo ela neta do biriva Justino
Outro sim, eu neto do tropeiro sinhozinho.

Bravos birivas matutos
Intrépidos gaúchos da pampa
Onde figuras se estampa
Onde culturas se ermana
Como a buscar das cabanas
Sem discernimento ou critério
A unir-se o peão xucro e gaudério
A intrepidez de outros cueras
Gente que tanto se esmera
Junto a estes povos que canta
Que unidos se agiganta
Numa nação que prospera.

A proferir minha prece
Vou pedir ao bom pastor
Para um dia quando me for
Eu leve em meus aconchegos
Cama com poncho e pelegos
Prenda linda e chimarrão
No final desta oração
São esses os anseios meus
Onde minha alma se acampa
Que os intrépidos gaúchos da pampa
E matutos peões birivas
Repontem bem suas comitivas
Lá em cima, aos pés de Deus.
                  
 Miguel Arnildo Gomes.
                            (Vô Miguel)


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